LUDENS VIDEOGAME |
do livro
SOBRE BANDIDOS E CARDÁPIOS EM BRAILE
Toda sociedade tem conflitos. Qualquer grupo de pessoas que se reúna, que conviva, vai gerar conflitos. Duas pessoas numa mesma casa, um grupo de famílias que moram no mesmo prédio, na mesma rua, na mesma cidade. Sempre haverá conflito. Os interesses diferem, os hábitos não são os mesmos. E quanto mais próximas as pessoas maiores serão os conflitos. Quanto maior for a densidade populacional numa determinada região maior é a probabilidade de que haja conflito. As sociedades criam instrumentos, instituições para administrarem esses conflitos. Criam, entre outras coisas, o Estado, criam regras, leis e formas de fazer valer essas leis. Cada situação específica, cada sociedade com sua história, suas tradições, suas instituições cria e desenvolve também seus mitos suas supostas "verdades". A mitologia vigente é o conjunto daquelas crenças arraigadas que nem discutimos. As pessoas acreditam ou fingem acreditar ou se propõem a acreditar ou acham melhor acreditar nos seus mitos. Entre os mitos de qualquer sociedade estão as supostas "formas corretas" de administrar os conflitos, os problemas que surgem com a convivência. As pessoas "sabem" como acabar com diferenças de renda, como escolher os chefes, "sabem" quem deve fazer o que e quando. Todos sentem os problemas e pensam saber como resolvê-los. O que formulo aqui, sei disso, não passa de uma abordagem elementar, meio ingênua, de temas que estão discutidos e pensados de maneiras mais inteligentes nos clássicos de Filosofia Política, de Economia, de Sociologia. Minha intenção aqui não é criar, discutir ou aprofundar teorias. Quero só esboçar as linhas gerais de um problema. Quero começar por aqui. Quero lembrar que por trás dos nossas decisões há crenças arraigadas e ignoradas. Crenças que temos por verdades absolutas, crenças que nem pensamos em discutir. Coisas que "sabemos" e que achamos que "são assim mesmo" e pronto. Uma dessas crenças, muito arraigada, é a de que para resolver um problema, um conflito, basta proibir alguma coisa. Impedirmos alguém de fazer isso ou aquilo e tudo estará resolvido e melhoramos o mundo, melhoramos a relação entre as pessoas e aumentamos a felicidade geral. Bebida alcoólica provoca problemas? Lei seca. O bar é um local barulhento e incomoda a vizinhança? Que se fechem os bares. A fumaça dos fumantes incomoda os não fumantes? Que se proíba o cigarro. Proibir parece, à primeira vista, a maneira mais fácil de se resolver um conflito. Tem gente que acredita nisso. Por trás de uma proibição há vários valores, várias crenças, vários mitos envolvidos, subentendidos, aceitos sem discussão. Imagina-se, por exemplo, que toda atividade ligada ao trabalho deve ser preservada e defendida em detrimento de qualquer atividade ligada ao lazer, a diversão. O "trabalho" é um valor positivo; o "lazer", um valor negativo. Esse é um, só um, entre muitos mitos. São, quase sempre, meias verdades. E, seja lá o que for que chamemos de "verdade", só podemos avaliá-la em situações específicas em função dessas situações específicas, nunca de forma absoluta. E, o que é pior, a mitologia vigente acaba tendo muitos e muitos usos, os mais inesperados. Servem para fazer demagogia, para mostrar serviço, para tentar esconder o sol com a peneira, servem para delinqüentes profissionais, em nome do povo, em nome do bem, ganhar dinheiro à custa dos trouxas. Servem para que uma quadrilha organizada se acoberte sob o manto protetor da máquina estatal e fique assaltando a população, apropriando-se ou tentando se apropriar de parte da riqueza gerada pelo trabalho do próximo. Falo dos legiferantes legisladores desta nossa São Paulo. O sistema de poder, as funções atribuídas ao Legislador, acabam servindo para lesar e explorar e extorquir certos segmentos sociais. Onde as "autoridades" (triste termo...) cheiram dinheiro vão lá buscar. Ou tentam ir lá buscar. Leis, muitas, são feitas com o único intuito de faturar. Sabem, certos bandidos que detêm parte do poder, que pondo em risco o patrimônio e o trabalho do próximo podem eventualmente ganhar algum. E ganham. Ignoram totalmente suas supostas funções — legislar de modo a tentar resolver os problemas prioritários da comunidade, a melhorar dentro do possível a qualidade de vida numa cidade complexa e cheia de problemas. Em vez disso, vão fazer leis que permitem multar bares que não têm cardápio em braile. E, pior, nós é que estamos pagando esses bandidos. Seus salários são pagos por nós. Os carros e "viaturas" de que se usam e de que se apropriam foram comprados com dinheiro dos impostos pagos por nós. Quem é essa gente que se apropriou do Estado, que se apropriou do nosso patrimônio, que se arvora o direito de fazer o que bem entende, de escarnecer da população, de agir tendo por bandeira ou pretexto chavões que não passam de ofensas à nossa inteligência? Quem é essa gente? O que estão fazendo lá? E nós o que estamos fazendo aqui como carneiros a mercê de lobos? Precisamos virar esse jogo. Botar essa gente pra correr, resgatar o Estado que é nosso. Há uma briga boa pela frente. Vamos lá? A cidade tem problemas, de trânsito, de saúde, de segurança, de educação, entre outros. A qualidade de vida nesta cidade se deteriora a cada dia. Não espero milagres. Sei que ninguém é super-homem e vai colocar tudo em ordem com um passe de mágica. Mas não podemos ficar nas mãos de bandidos, incompetentes, irresponsáveis, dessa quadrilha que vai de fiscais e secretários de Estado a vereadores manipulando e se apropriando da grana gerada pelo trabalho de todos nós na mais rica cidade do Brasil... Afinal, o que nós vamos fazer com essa gente? Não tenho soluções, mas estou aceitando sugestões e estou na briga. |
Se você tem perguntas ou comentários a fazer sobre este web site,
por favor, mande um e-mail para ludens@ludens.com.br
|