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do livro
EELEX’97 - MOSCOU GAMES NEWS Nº 48 - SET/OUT/97
No dia 4 de outubro, viajamos a Moscou, vindos de Madri, Roberto Salles, Edson Pinheiro da Silva, Luiz (Bahia) Pinto e eu. Chegamos lá no fim da tarde. No aeroporto, depois de passarmos pelo controle da polícia, fomos esperar nossas bagagens. Procurei por um carrinho. Num dos cantos do salão, a fila de carrinhos e, ao lado, atrás de um balcão, uma senhora uniformizada. Nenhum aviso, nenhuma placa. Entendi — ou adivinhei — que para pegar um carrinho deveria pagar alguma coisa à camarada balconista. Perguntei-lhe, em inglês, quanto era. Ela não entendeu. Tentei em espanhol, francês, italiano. Ela continuava a não entender nada. Olhava interrogativamente tentando adivinhar afinal o que eu pretendia tentando me comunicar naquelas línguas bárbaras. Não tinha como lhe dizer que, para mim, Russo é russo. Arrisquei a velha e infalível linguagem internacional da mímica. Mostrei-lhe uma nota de um dólar. Aí ela entendeu. Fez-me sinal com os dedos indicando dois. Entendi. Dois dólares! Na porta do aeroporto, carros particulares em condições de conservação não muito satisfatórias faziam bicos oferecendo seus serviços aos viajantes que desembarcavam. Pois é, chegamos a Moscou em meio a uma greve de táxis. Intermediários, falando um precaríssimo inglês, negociavam os preços das corridas. No fim, tudo acabou dando certo. Chegamos ao nosso hotel de nome sonoro e, para nós, quase impronunciável. A EELEX ‘97 — Eastern European Leisure Exhibition — show organizado pela World’s Fair, já no seu sexto ano de sucesso, aconteceu em Moscou entre os dias 5 e 7 de outubro. Além dos muitos empresários locais, havia já expositores italianos, franceses, ingleses, checos, ucranianos, irlandeses, canadenses, holandeses chegando na frente e descobrindo o mercado do leste europeu. Na Rússia tudo é novo na área de diversões. O mercado mal começa a se organizar e se desenvolver. Representa um desafio para qualquer empresário. O potencial é grande. Isso já se nota pela presença dos cassinos que começam a aparecer num modelo e estilo muito diferente dos grandes complexos de Las Vegas. Lá, em Moscou, o padrão é de pequenos cassinos, muito movimentados. Alguns estão associados a Night Clubs outros, presentes no lobby dos grandes hotéis ou mesmo em barcos no rio Moscou. Um rio imita o Mississipi... Moscou está comemorando, agora, 850 anos — 1147 é considerado o ano da sua fundação. A cidade começou na colina em que está hoje o Kremlin. No início eram fortificações de madeira, mais de uma vez destruídas por invasores e sempre reconstruídas. Só no século XIV as construções em pedra começam a substituir as antigas. No começo do século XVIII o czar Pedro, o Grande, muda a capital do reino de Moscou para a recém fundada São Petersburgo. Logo depois da Revolução Russa de 1917, Moscou volta a ser a capital e, depois, centro político de toda a União Soviética. Foi um dos pólos de poder no mundo até 1991. A capital da Rússia é uma belíssima cidade. O complexo Kremlin/Praça Vermelha, às margens do rio Moscou, é o centro de onde partem amplas avenidas radiais cortando bulevares circulares. A arquitetura apresenta uma curiosa mistura bizantino/renascentista entremeada por construções barrocas e neoclássicas típicas das grandes cidades européias e pelos edifícios compactos e grandiosos do período soviético. No final do século XIX, novos edifícios são construídos nos quais predominam estruturas e decoração em ferro e vidro. É o caso do GUM (sigla para Armazém Geral do Estado) na Praça Vermelha, atualmente um grande shopping center com uma clarabóia em ferro e cristal que cobre os 250 metros de extensão do edifício. Na Praça Vermelha, aos pés da muralha do Kremlin, lugar de honra, de merecida honra, está o mausoléu de Lenin, o estadista, o líder, o revolucionário que marcou definitivamente a história deste século. Lenin morreu em 21 de janeiro de 1924. Em dois dias e meio o arquiteto Scusev construiu, em madeira, um mausoléu para abrigar seu corpo. Entre 1929 e 1930 foi construído em sóbrio granito o atual e definitivo mausoléu. Ali,em câmara silenciosa, na penumbra, guardado por poucos e solenes soldados, repousa ainda, embalsamado, Vladimir Ilich Lenin. A cidade sempre surpreende. Nas estações de metrô dos grandes centros urbanos do mundo é comum encontrar alguém tocando uma guitarra, um acordeom ou até um pequeno conjunto tocando jazz. Mas em Moscou, numa estação do metrô, nada menos que um afinadíssimo quinteto de cordas tocava Beethoven. Mas nem só de música vive uma cidade. A prostituição,sabemos, não é privilégio especial de nenhum país. Está presente em qualquer lugar, em qualquer época. Mas, em Moscou, é mais ostensiva, aparece mais. Os lobbies dos hotéis, os cassinos, até onde nos foi dado observar, servem de ponto e passarela para uma considerável quantidade de lindas e jovens prostitutas. Vive-se na Rússia — e no mundo — um momento de passagem. A História, assim, com letra maiúscula, não se completou. Não temos ainda a perspectiva suficiente para avaliar o que está acontecendo naquele país, tão antigo e tão novo — pólo de poder, centro de atenções e repositório de esperanças de todos aqueles que viveram, lutaram e tiveram a coragem de sonhar ao longo deste breve e fascinante século XX.
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